Artigos Científicos

MODELO

 

 

 NOVAS DEMANDAS PARA A DOCÊNCIA
 
     Este trabalho, consiste num estudo teórico sobre as questões atuais, que se envolvem no processo de formação docente. O artigo fundamenta-se por idéias discutidas nos textos:  Novas atitudes docentes (Libâneo); A Racionalização do Ensino e Profissão Docente;  Prática de Formação Contínua de Professores: Cinco Teses para Debate e Dilemas da Profissão Docente  (Nóvoa).
   O primeiro texto mencionado, apresenta estratégias, que devem ser incorporadas nas ações dos educadores. A mediação pedagógica, tratada no texto, refere-se a intervenção do professor no processo de ensino-aprendizagem, esta idéia, infelizmente não corresponde a boa parte das práticas  tradicionais de ensino, que limita-se a meras transmissões de conteúdos,  trazendo como conseqüência, uma considerável acumulação de informações.
   Sabe-se que cada aluno, ao chegar na escola, traz consigo suas próprias experiências de vida. Nesse sentido, é preciso trabalhá-las em articulação com os assuntos relacionados a(s) disciplina(s), com o objetivo de facilitar a compreensão em torno dos mesmos.
   Citemos como exemplo, a utilização em sala de aula, da matemática presente no dia a dia, como o uso da adição e subtração na venda de frutas na feira  ou de qualquer outro produto no mercado, trazendo para a prática, o que é visto através de teorias, para que o aluno perceba que a matemática está presente na vida de cada um, e não apenas nos livros didáticos.
   Poderíamos citar vários outros exemplos, como é o caso das profissões, que devam ser estudadas a partir das realidades de trabalho dos pais dos alunos, sejam eles: eletricistas, padeiros, comerciantes, balconistas, doutores e etc. Os estudante precisam portanto, de um intermediário, que lhes ofereçam subsídios cognitivos através de orientações específicas.
   Segundo Libâneo,  “O que se afirma é que o professor medeia a relação ativa do aluno com a matéria, inclusive com os conteúdos próprios de sua disciplina, mas considerando os conhecimentos, as experiências e os significados que os alunos trazem á sala de aula”.(2003, pg 28).
   A mediação do professor permite a formação de sujeitos pensantes, tanto no que diz respeito a conceitos (informações sobre determinado assunto ou teorias: científicas, históricas, geográficas, literárias, e etc), como também, a habilidades ( leitura, escrita, interpretação e etc ), atitudes ( ação do sujeito na sociedade ), e por fim, a valores ( éticos, sociais, culturais e etc ).
   Torna-se necessário na pratica docente, o uso de estratégias  que auxiliem na compreensão dos conteúdos, na intenção de se dá uma maior relevância aos assuntos necessários para o desenvolvimento pessoal de cada aluno. Na maioria das vezes, os conteúdos utilizados através do currículo oficial da escola, abordam questões bastante contraditórias com as condições de aprendizagem dos alunos e suas realidades de vida. Nessa perspectiva, a intervenção do educador facilitará a assimilação em torno da complexidade das informações teóricas envolvidas nas disciplinas.
   Diante dessas idéias, podemos destacar a prática interdisciplinar, como um processo de enriquecimento, tanto no que se refere a ação docente, como na aprendizagem do aluno, já que, a interdisciplinaridade abrange a integração entre diferentes saberes ou disciplinas e supera a tradicional prática pluridisciplinar, caracterizada pelo uso de conhecimentos isolados entre si.
   A troca de experiências entre professores, é de suma importância para essa questão , de acordo com Libãneo, a prática interdisciplinar começa “com a integração dos professores das varias disciplinas e especialistas num sistema de atitude e valores que garantam a unidade do trabalho educativo e se viabiliza por um sistema de organização negociado”.(2003, pg 33).
   Não é raro depararmos com expressões do tipo: “só me preocupo com a disciplina que leciono”. Não queremos dizer que os educadores tenham a obrigação de conhecer detalhadamente todas as disciplinas para que sua prática seja interdisciplinar, mas, que sejam capazes de utilizar diferentes saberes, quebrando barreiras entre as disciplinas, que muitas vezes tem muito em comum.
   Podemos citar por exemplo, a importância de um professor de história, tratar de assuntos que envolvam história política e social do início do século, unida ao mundo contemporâneo, para que o aluno veja toda a trajetória política de um modo geral, e de forma mais específica, do Brasil, do Estado e da cidade em que está inserido.
   Este exemplo pode se estender a todas as áreas. É possível também se trabalhar em Ciências, as condições naturais da comunidade, bem como, seus aspectos geográficos, históricos, culturais etc, sem esquecer, evidentemente, que os processos de leitura e escrita também são aperfeiçoados nessas disciplinas, e não apenas nas aulas de língua portuguesa.
   Acredita-seque a prática interdisciplinar dá uma maior firmeza com relação aos conhecimentos adquiridos pelos estudantes, e principalmente, quando se consegue fazer uma ligação entre teoria e prática, assunto relacionado a intercomunicação entre os diferentes saberes que envolvem as disciplinas  da escola.
   Os educadores também podem auxiliar seus alunos, no sentido de se obter uma perspectiva crítica dos assuntos e conteúdos. Em primeiro lugar, é preciso trazer para o ambiente escolar, questões relacionadas a realidade de vida dos mesmos, seja no que diz respeito ao ambiente, condições de vida, família e etc, como no andamento da sociedade de uma forma global, pensando e analisando os fatores correspondentes.
   Com relação aos conteúdos teóricos, o procedimento é o mesmo. A exploração das idéias em conjunto: professor-alunos, promove a interpretação daquilo que ficou internalizado, como por exemplos , os pontos positivos e negativos e os valores que deixaram de ser evidenciados nas escritas, e que os professores podem, através desse exercício, motivar a formação de pessoas autônomas, capazes de criticar as informações antes de absorve-las.
   De que forma então, o educador pode exercitar a criticidade do aluno? Podemos fazer referencia aos seguintes pontos:
  • Trabalhar em sala a oralidade e o diálogo, através de  questionamentos acerca das atividades práticas dos indivíduos, e como eles participam da vida social, intervindo, modificando e construindo determinado tema;
  • Discutir sobre o atendimento das necessidades práticas da vida social, como por exemplo, as atitudes que os nossos governantes deviam tomar, para que se amenizasse a pobreza do nosso país;
  • Mostrar para o aluno  as diferentes realidades que o envolvem, deixando-o fazer suas próprias escolhas interpretativas, desta forma, exalta-se a possibilidade do desenvolvimento crítico-reflexivo do aluno diante dos fatos teóricos e cotidianos.
 
   Deve-se reconhecer que a compreensão sobre determinado conteúdo, requer, acima de tudo, a contextualização dos objetos de conhecimento e suas ligações com a prática humana, como Libâneo ressalta, “O que se agrega aqui, em termos de pensar crítico, é a capacidade de problematizar, ou seja, de aplicar conceitos como forma de apropriação dos objetos de conhecimento a partir de um enfoque totalizaste da realidade”.(2003, pg 37).
   É através das atitudes do professor, que os alunos descobrem o verdadeiro sentido da educação. A integração da dimensão afetiva no exercício da docência, refere-se ao compromisso com as diferenças e particularidades dos educandos. Esta idéia, é também enfatizada por Nóvoa (2002, pg,24), quando discute sobre a redefinição do sentido social do trabalho docente, ele acredita que “ a actividade docente caracteriza-se igualmente por uma grande complexidade do ponto de vista emocional”. Nesse sentido, podemos perceber, que os professores estão inseridos num espaço carregados de afetos, de sentimentos, e não apenas de instrumentos técnicos de ensino.
   O autor apresenta alguns dilemas da profissão docente, em síntese, destacamos o da “autonomia” no sentido de se reconhecer as diferenças que envolvem nossas escolas, e a capacidade autônoma de se adaptar a essas diferenças, eis ai o segundo dilema. Diante deste, destaca-se que professores tendem a limitar sua capacidade de ensino, à dominação do conteúdo e a forma agradável de lidar com o aluno, os docentes acabam simplificando suas ações educativas, visto que, desconhecem ou não trabalham as diferenças que envolvem a realidade dos alunos, este é portanto o terceiro dilema, que reduz a complexa atividade pedagógica ao estatuto das coisas simplificadas.
   Para compreendermos a questão da  Racionalização do ensino, discutido por Nóvoa, temos que considerar a realidade que envolve a Pedagogia na última década, caracterizada como uma ciência de certezas, baseada em diagnóstico, reforçando preceitos de avaliação e controles escolares. Em linhas gerais, uma ciência do antes e do depois.
   A racionalização do ensino, fundamenta-se pelo controle das ações educativas, no intuito de molda-las, de acordo com os profissionais dessa área. Segundo Nóvoa (2002, pg 3) “justifica-se, em larga medida, por uma espécie de mimetismo em relação aos modelos de análise dominantes no mundo econômico e empresarial”.
   O problema da racionalização do ensino, é que reduz o trabalho pedagógico a uma dimensão técnica, exclusivamente racional. Nesse sentido, desconsidera-se os fatores aleatórios ou imprevisíveis, que fazem parte do cotidiano das escolas. O caráter instrumental da racionalização, tende a tornar mecânicos, os procedimentos dos educadores, como se a realidade das instituições de ensino fossem idênticas, daí sua relação com as ações empresariais, que se baseiam no trabalho repetitivo, planejado e organizado, lutando sempre contra a impresibilidade.
 De acordo com Nóvoa, 2002, pg 35,
 
         O que de mais decisivo acontece na escola não é possível de ser previsto, nem de ser medido: em educação o que marca a diferença é o modo de produção, e não o produto. Sublinha-se assim a necessidade de uma pedagogia do processo, de uma pedagogia da situação.
 
          Destaca-se, uma linha de pensamento idêntica a que foi discutida anteriormente: a mediação pedagógica. Lee Shuman ressalta que os educadores contemporâneos, devem saber intervir sobre seus saberes, isto implica na capacidade de reorganização e transformação do ensino. Outra questão que se apresenta, é a da formação continuada de professores, Kenneth Zeichner e Daniel Liston, denunciam as atitudes cientificas dos cursos de formação docente, enfatizam suas limitações e apelam para “uma transversalidade que permita a mobilização de diferentes tradições e correntes cientificas” ( Nóvoa, 2002, pg 38).
         A formação continuada de professores, deve motivá-los a adquirirem uma visão crítico-reflexiva das situações escolares. O professor deve ter autonomia para agir em seus ambientes de trabalho, sendo participativos, com caráter investigativo, envolvendo a criatividade nas ações educativas, para se alcançar a identidade profissional.
   Diante dessas argumentações, é importante considerar as “Cinco teses para debate”. A primeira delas refere-se a formação contínua de professores, no sentido de se investir em perspectivas inovadoras em situações escolares. A segunda tese, refere-se a valorização das atividades de (auto)formação, para estimular a emergência de uma nova cultura profissional. A terceira se trata da “reflexão na prática e sobre a prática”, visando a valorização dos saberes próprios dos educadores. A quarta tese, diz respeito ao incentivo à participação de todos os professores, nesse processo de formação continua. A quinta e ultima, volta-se para a captalização das experiências inovadoras, trabalhando em prol da qualificação das mesmas.
   Portanto, cabe a nós,  refletirmos sobre a realidade que envolve a profissão docente nos dias atuais. Através deste estudo, percebemos uma certa coincidência em torno das concepções dos autores, (Libãneo e Nóvoa), cujos argumentos, contribuem em larga escala para a reorganização do trabalho pedagógico comtemporaneo.
 Os conhecimentos que adquirimos, através da explanação dessas idéias, faz-nos analisar sobre a necessidade de os cursos de formação, inovarem suas metodologias sobre as questões pedagógicas e aquelas construídas na vida profissional e pessoal do educador, devendo responder as diferentes demandas referente ao trabalho docente, desde o domínio dos conhecimentos específicos em torno dos quais deveremos agir e compreender as questões envolvidas na área educacional, sua identificação, autonomia para tomar decisões, responsabilidade pelas opções feitas, avaliação critica da própria atuação, interpretação e posicionamento diante das diferentes abordagens didáticas.
Todo esse interesse de se inovar as atitudes pedagógicas, devem centrar-se exclusivamente em nós, educadores. Para haver mudanças qualitativas, devemos permitir que a reflexão sobre nossa prática, em conjunto com novas atitudes, venham ocupar o lugar central, no processo de ensino, em que estamos inseridos.
 
 
 
                          
Referencias
 
LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora? Novas exigências educacionais e profissão docente. – 7 ed. – Cortez, 2003.
 
NÓVOA, Antônio. Formação de professores e trabalho pedagógico. Educa. Lisboa, 2002.